Meninos não aprendem nada
Quem lê reportagens e
artigos na internet já se acostumou aos comentários sem-noção. Geralmente um
emaranhado de insultos que ao final se resumem em culpar o Governo ou o PT por
todos os problemas da humanidade. Mas às vezes; vezes muito, muito raras, os
comentários são tão bons que completam ou superam o texto original. É o caso do
artigo “Meninas aprendem a se proteger; meninos não aprendem nada”, da
especialista em políticas de educação e ciência Sabine Righetti, publicado na
edição eletrônica da Folha de S. Paulo deste domingo, 20 de abril. O ideal é
que se leiam o artigo e os comentários na íntegra, mas, resumidamente, o texto,
ainda no rastro da pesquisa do IPEA que suspostamente indica que os
entrevistados consideram que uma mulher sumariamente vestida mereça ser atacada
sexualmente, defende que as escolas ensinam as meninas a se proteger contra
ataques sexuais mas não ensina os meninos a não as atacar.
Além da fragilidade da tese
defendida, há ainda o título genérico demais: as meninas, todas elas, aprendem
a se proteger, mas os meninos, esses malvados, não aprendem nada. Possivelmente,
a infeliz escolha desse título já foi suficiente para atrair comentários
irados. Mas o mais curioso é que a maioria dos comentários mantém um alto nível
de argumentação. Alto nível que a autora do texto não conseguiu nem de perto
alcançar. É o caso do leitor que se identifica como John Keiper. Ele diz: “Ah,
as generalizações… Se alguns são doentes e covardes, todos os homens não
possuem escrúpulos e devem ser educados, assim como todas as mulheres são
entidades divinas, que podem sair a hora que quiserem, em um país seguro como o
Brasil. O senso de segurança não serve para ambos os sexos?. Prezo pela
igualdade de direitos e deveres, mas sem esse feminismo cego.”
Já Léo Roberto
ponderou: “Estuprar é um ato que revela, sem dúvida alguma, um gravíssimo problema
psiquiátrico do praticante. Educação nada tem a ver com esse comportamento
terrível. Qualquer homem, independentemente de sua educação, se não for
desequilibrado jamais conseguirá perpetrar esse crime.” O leitor Flávio
argumenta que o estupro deve ser encarado em meio a todas as outras formas de
violência: “Alienado seu texto. Sou homem, 33 anos faço academia, musculação
pesada, e não saio de casa pra correr nem depois das seis. Não na rua. Uma
coisa é estar em Viena outra é estar no Rio ou em São Paulo em que há uma horda
armada disposta a tudo. Se quiser ficar teorizando sobre o machismo, feminismo
e outros ismos tudo bem, mas a violência urbana não escolhe, porte físico
etnia, gênero.”
E assim seguem os comentários, sempre atacando as
incoerências que permeiam os raciocínios desenvolvidos no texto. Até o momento
de publicação deste texto, apenas Loira havia empenhado total apoio à tese de
Sabine e de uma forma bem clássica, com direito a ofensas e generalizações:
“Ótimo post, ótima observação Sabine. Infelizmente essa proporção de um em
quatro ainda é grande e revela que o Brasil é o país dos calhordas que acham,
sim, que só compete às mulheres ter freios morais.”, postou a leitora, se
referindo à pesquisa corrigida do IPEA. Parece que Loira aprendeu a se defender.